A Experiência do Adulto e a Credenciação dos Saberes

 

 Actividade 7 - A Experiência do Adulto e a Credenciação dos Saberes

 

       Nesta actividade foi proposto pelo professor que contactássemos com um adulto que tivesse experimentado o processo de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências), tentando perceber junto deste qual a sua impressão sobre essa experiência, caracterizando alguns aspectos do seu discurso que pareçam tipificar o processo RVCC de um modo singular e procurando elencar algumas das etapas do processo a partir deste testemunho e quais os efeitos que o adulto percepcione da realização do seu processo RVCC, na sua vida a nível pessoal, profissional, familiar, etc. Assim, este processo valoriza o que cada um aprendeu, em diferentes contextos (formais, não formais e informais), ao longo da sua vida  e reconhece as competências que foi adquirindo, atribuindo-lhe uma certificação escolar e/ou profissional. O processo de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC) decorre nos Centros Novas Oportunidades, destinando-se a maiores de 18 anos que não tenham completado o 4º, 6º, 9º ou 12º ano de escolaridade.  

    O reconhecimento das competências adquiridas ao longo da vida em contextos informais de aprendizagem constitui um importante mecanismo de reforço da auto-estima individual e de justiça social, mas também um recurso para que os adultos se insiram novamente em processos de educação formal. O reconhecimento das competências adquiridas permite, a nível colectivo, estruturar percursos de formação complementares ajustados caso-a-caso. Este induz o reconhecimento individual da capacidade de aprender, o que constitui o principal mote para a adopção de posturas pro-activas face à procura de novas qualificações. A consolidação e expansão dos dispositivos de reconhecimento e validação de competências é pois um recurso essencial para o desenvolvimento do país.

    O processo de RVCC é desenvolvido ao longo de um conjunto de sessões durante as quais os candidatos são apoiados, por técnicos e formadores, na identificação e reconhecimento das respectivas competências escolares, na recolha de evidências que as comprovem ou na respectiva demonstração.

Estas competências são avaliadas face ao Referencial de Competências Chave de Educação e Formação de Adultos pretendido pelos candidatos.

Caso se verifique que os candidatos têm competências em falta serão desenvolvidas formações de curta duração ajustadas às necessidades dos adultos. O processo culmina com a apresentação do candidato perante um Júri que valida as competências detidas e formaliza a certificação escolar.

    Assim, de acordo com o que foi pedido pelo professor, a pessoa entrevistada é do sexo feminino, tem 46 anos e frequentou o RVCC há sensivelmente dois anos, tendo obtido o 9.º ano de escolaridade. Esta conta que iniciou este processo através de uma profissional da junta de freguesia da sua área de residência, sendo que ao saber que a entrevistada estava desempregada e gostaria de trabalhar como auxiliar de educação, propôs que esta frequentasse o RVCC, de forma a ter mais qualificações, pelo que a ideia inicial passaria por frequentar aulas que estivessem ligadas com a educação, o que mais tarde não se verificou, tendo um currículo mais geral.

    O seu processo decorreu durante cerca de cinco meses, duas manhãs por semana. Do que foi possível perceber, a entrevistada não considerou esta experiência muito relevante, já que apenas serviu para melhorar a sua auto-estima, não tendo repercussões em possibilidades de emprego. Esta conta que achou o processo demasiado fácil, sendo que as actividades não eram presenciais, sendo realizadas pelo seu marido ou pela sua filha, pelo que a única tarefa que teve de realizar sozinha foi a apresentação pública do seu percurso.

    Como esta experiência não lhe trouxe os efeitos desejados, a entrevistada sentiu necessidade de frequentar outros tipos de formação, tal como práticas com crianças, informática, inglês, entre outras, estando já a frequentar um curso EFA para obter o 12.º ano de escolaridade. Os Cursos de Educação e Formação para Adultos visam elevar os níveis de habilitação escolar e profissional da população portuguesa adulta, através de uma oferta integrada de educação e formação que potencie as suas condições de empregabilidade e certifique as competências adquiridas ao longo da vida.

    Assim, relacionando a experiencia vivida pela pessoa entrevistada com os pressupostos que orientam o processo de RVCC, os passos foram seguidos sem saltar nenhuma etapa, contudo, não consegue encarar o processo vivido como um retorno ao contexto formal de educação, já que era encarado pelos professores de uma forma mais informal e passageira, não exigindo muito dos adultos que frequentavam aquele centro.

        Depois do que debatemos nas aulas, podemos perceber que nem toda a gente concorda com este tipo de formação e associam o RVCC a pessoas mais velhas que não tiveram oportunidades para estudar antes, ou optam por esta via para mera realização pessoal. Os estudantes que se “matam” a estudar durante tantos anos para obter 9º ou 12º ano de escolaridade por vezes, sentem-se injustiçados por este método criado, pois através do RVCC obtem-se um diploma com menos dificuldades e em menor tempo. Neste processo, o grupo concorda que se devem ter em conta o que os formandos sabem, e partir daí. Para além disso, consideramos que este é um processo que realmente aumenta a auto-estima das pessoas que o frequentam, pelos testemunhos que vimos. Os aspectos negativos são que o RVCC é como se fosse um instrumento do governo para fazer diminuir o nível de alfabetização dos portugues (fazendo querer parecer com que os portugueses tenham mais qualificações/formação). Outro aspecto negativo é o facto de os trabalhos (histórias de vida) realizados pelos formandos não são controlados, isto é, são feitos em casa e os formadores não sabem se aquilo foi feito pelos formandos mesmo ou por outra pessoa. Tal como constatamos em testemunhos apresentados nas aulas, muitas vezes eram os filhos que faziam o trabalho aos pais. Para além disto, os formandos nem sempre consideram uteís as aprendizagens feitas, pois dizem que não lhes serve para nada.

      Podemos assim dizer, que o RVCC é um processo que existe para comaltar certas falhas no ensino português, mas que de certo modo traz uma maior confiança a quem o frequenta.

Do nosso ponto de vista, a experiência vivida pela entrevistada enquadra-se no Humanismo, defendido por Maslow, em que a motivação humana está relacionada com a satisfação de necessidades, já que esta considera que o único efeito do processo de RVCC foi a melhoria da sua auto-estima. Esta encontra-se assim em educação permanente já que tem uma motivação intrínseca para aprender, encarando-a neste momento como uma actividade individual, reconhecendo a importância de tudo o que já fez, já que a educação ao longo da vida deve incluir experiências de vida e outras situações de aprendizagem, as devem ser reconhecidas e creditadas, tal como lhe aconteceu no processo de RVCC.

 

Consideramos ser pertinente divulgar o video de apresentação da Iniciativa Novas Oportunidades, não sendo por isso da nossa autoria.