Inserção Profissional

   Actividade 3 - Inserção Profissional: O Trabalho na Transição para a Vida Adulta

 

            No âmbito desta actividade vamo-nos focar no tema da inserção profissional e das suas implicações na sociedade dos dias de hoje. Desta forma, vamos destacar os factores de bloqueio à entrada dos jovens no mercado de trabalho, note-se que o documento[1] (Os Jovens e o Mercado de Trabalho. Caracterização, estrangulamentos à integração efectiva na vida activa e a eficácia das política) que serviu de base a esta reflexão é de 2006. Ao tomarmos consciência destes, elegemos os três que mais nos preocupam e que, ao mesmo tempo, melhor se encaixam, nas nossas opiniões, na sociedade e realidade de hoje em dia. Antes de apresentar os nossos eleitos, vamos passar a enumerar esses mesmos factores, sendo eles:            

  • Disparidade de competências e qualificações;
  • Desfasamento entre o sistema de ensino e o ensino profissional;
  • Flexibilização e precarização do mercado de trabalho;
  • O (sub)aproveitamento das competências dos jovens;
  • Desajustamento entre as novas orientações perante o trabalho e as exigências do sistema de emprego;
  • Insuficiências dos programas sociais de apoio;
  • Assimetrias das redes informais de suporte;
  • O problema da conciliação trabalho-família;
  • A distância face às instituições burocráticas e financeiras;
  • A discriminação de “certas culturas juvenis”.

 

        Perante os dez factores acima enunciados, vamos passar e hierarquizar os três que mais nos chamaram a atenção pela sua pertinência e concordância com a realidade em que vivemos. Ao justificarmos as nossas opções vamos tentar dar conta da realidade de Portugal e de Espanha pois o nosso grupo é heterogéneo e achamos pertinente dar a conhecer duas realidades diferentes. O primeiro factor é o da discriminação de “certas culturas juvenis” pois não concordamos que só porque as pessoas têm um estilo de vida diferente, ou porque são mulheres ou porque pertencem a uma etnia minoritária lhes seja negado o acesso a determinados postos no mercado de trabalho. Cada um é como é e tem potencial por isso mesmo, independentemente de ser homem ou mulher, branco ou preto, judeu ou católico, todos têm os mesmos direitos. Existe uma frase que bem descreve esta realidade, que mostra como na sociedade todos devíamos ter os mesmos direitos, oportunidades e opções de escolha, esta expressão diz-nos que na vida “há problemas  que esperam as raparigas e os rapazes. A todos a vida pede, por igual, discernimento, espírito de iniciativa e decisão, coragem, solidariedade. A todos deve ser reconhecido o direito de escolher trabalho, segundo o gosto e capacidade pessoais, e cada um a oportunidade de o realizar. Todos fazem falta na pequena sociedade familiar: para se amarem e entreajudarem segundo as necessidades de cada momento e as possibilidades de cada um. Sem relação directa com o facto de ser rapaz ou rapariga” (Leal, 1982: 61). E isto acontece independentemente do país onde nos encontrarmos.

        Ao chegarmos ao segundo factor deparamo-nos com uma situação um tanto ou quanto irónica pois nesta posição não conseguimos optar por um simples factor, abrangendo esta área dois factores. Os factores que geraram esta indecisão foram o problema da conciliação trabalho-família e a flexibilização e precarização do mercado de trabalho. Escolhemos o primeiro factor porque mais ou menos ao mesmo tempo, que os jovens entram no mercado de trabalho também iniciam a sua vida de conjugalidade e parentalidade e não lhes devem ser negadas oportunidades só porque são pais ou mães ou só porque uma mulher está grávida. A outra situação ligada a este factor está ligada aos contractos precários e mal remunerados, cada vez mais se assiste a contractos por três ou seis meses de trabalho, a insegurança e incerteza face ao futuro é algo que consome e preocupa cada vez mais os jovens. O outro factor que nos chamou a atenção está directamente ligado com o primeiro porque o mundo do trabalho contemporâneo é atravessado por profundas transformações, que é sinónimo de oportunidades, desafios, escolhas e potencialidades mas também de riscos, incertezas e dificuldades. Quando nos vemos perante o nosso primeiro trabalho, vemo-nos capazes de aceitar certas condições, certas exigências e isto aumenta a insegurança. Nesta realidade, vemo-nos a trabalhar demasiado e a ser mal remunerado seja pelas qualificações que possuímos ou pela carga horária que trabalhamos. Esta é também a realidade de Portugal e Espanha.

        O terceiro e último factor, é o desfasamento entre o sistema de ensino e o sistema profissional. A distância que existe entre o sistema de ensino e o mercado de trabalho é abismal, o sistema de ensino foca-se em preparar os alunos para o ensino superior e as questões que estão relacionadas com o mercado de trabalho são colocadas de lado. Os cursos profissionais tentam combater esta lacuna mas continuam a abranger uma pequena minoria e continuam a ter por base os ideais tradicionais. Na outra face da moeda, vemos que no mercado de trabalho exige-se que os jovens trabalhadores se adaptem com muita rapidez aos novos contextos. Na nossa opinião, há pouco contacto com o mercado de trabalho, há pouca prática e muita teoria. Em Espanha, os jovens durante o ensino superior têm acesso a três meses de trabalho e nós só no Mestrado é que temos o estágio. As aulas por muito teórico-práticas que sejam, focam-se muito nas discussões em grupo, não temos o contacto com o exterior que necessitamos e que nos seria útil.

 

Detentores de títulos académicos que certificam trajectórias escolares longas e qualificantes, os jovens licenciados são, hoje em dia, confrontados com um futuro onde a incerteza impera e os riscos espreitam. A licenciatura já não garante, a muitos jovens, o acesso imediato aos empregos mais qualificados e melhor remunerados e os processos de inserção profissional perderam a linearidade que durante séculos os caracterizou, transformando o emprego dos diplomados num problema social e político” (Alves, 2008: 290).

 

        O objectivo consiste em interpretar e explicar esse fenómeno recente que faz com que a passagem da formação universitária para o mercado de emprego se tenha transformado num problema “social e político”. Não está em causa a “perda da eficácia” da formação universitária na obtenção dos melhores empregos, pois, como defende Alves, “é verdade que a situação se deteriorou, mas os licenciados continuam ainda a constituir um grupo privilegiado no mercado de trabalho” (idem: 2 91).

         O que é importante analisar é o conceito de Juventude pois são estes que enfrentam problemas na inserção no mundo do trabalho. A juventude, histórica e socialmente, tem sido considerada com uma fase da vida marcada por uma certa instabilidade associada a determinados «problemas sociais». (Pais, 2000. 24) O conceito de juventude deve

 

“adquirir um significado próprio assente na significância das vivências e subjectividades, o próprio valor da educação exige novas configurações, já que o tipo de competências que se valorizam podem ter uma aplicabilidade contemporânea à sua aprendizagem. O ser jovem torna-se um “momento independente” de outras idades, sem estar referenciado a elas, mas mais do que nunca integrado na realidade social, à semelhança de outras dimensões da vida humana” (Silva, 2010: 90).

 

         É necessário que se olhe para a juventude como um estado de vida que tem e deve ser vivido e aproveitado. Não devemos olhar para o jovem como um futuro adulto, mas sim como um jovem capaz de contribuir na definição da sociedade. Apesar de se valorizar as aprendizagens ao nível da educação formal, não podemos esquecer aquelas que ocorrem no campo não formal, aquelas experiências que ocorrem fora do espaço da escola mas que contribuem para o desenvolvimento do eu. Não podemos esquecer que o meio influencia o sujeito e esta não é uma excepção dos jovens, estes são moldados e influenciados por aquilo que os rodeia e é importante ter em atenção as experiências dos jovens de modo a que estes possam tirar o melhor de cada uma delas (Silva, 2010).

        Podemos definir inserção profissional como a entrada dos jovens na vida activa profissional, este conceito caracteriza a aceitação de novas práticas sociais. Inserção profissional é indissociável da inserção social, e tal significa que a inserção é um processo socioprofissional. A inserção relaciona-se em parte, com o processo de formação, isto é, a formação é considerada como facilitadora do processo de inserção profissional, pois quanto maior for o conhecimento, maior seria a probabilidade de exercer uma actividade profissional. Actualmente, mais do que competências profissionais (adquiridas através da formação) são exigidas também competências sociais, isto é a uma interiorização de normais, valores e condutas que parecem ser um recurso para os jovens se inserem no mundo do trabalho. No entanto e relacionado com o que acima referimos, podemos dizer que os problemas de inserção aparecem na medida em que os jovens retardam a confrontação entre os conhecimentos escolares e a experiência de trabalho. Podemos também dizer que os alunos saiem da escola mal preparados, apesar de actualmente haver uma maior importância para a preparação profissional através dos cursos profissionais. Assim, podemos finalizar defendendo que inserção dos jovens é complicada pois o mundo do trabalho pode ser entendido como um mundo de incertezas e dúvidas bem como dificuldades.

        Na relação que se estabelece entre jovens e trabalho, muitos estudiosos, ao estudarem a realidade mundial nas últimas décadas, são unânimes em constatar as profundas transformações que assolam o mundo do trabalho, culminando no fenómeno do desemprego que atinge milhões de pessoas com índices alarmantes jamais presenciados, especialmente aqueles demonstrados pelo desemprego juvenil. Pais (2008) argumenta que as próprias representações sobre o trabalho estão actualmente marcadas por instabilidades naquilo que se apresenta como turbulência e flexibilidade nas trajectórias juvenis. Isso não significa que o trabalho não seja uma esfera importante na vida dos indivíduos, mas ganha novas dimensões. Desse modo, é visível a própria diversidade e a heterogeneidade que caracterizam o mercado de trabalho. O ideal seria se os jovens pudessem desfrutar de uma formação educacional sólida para, posteriormente, na idade adulta, ingressar no mercado de trabalho, eram estas as bases do tradicional, no entanto e devido a vários factores, isto já não é tão linear. Entretanto, os jovens das camadas populares necessitam trabalhar, consequência de uma política socioeconómica neoliberal, não permitindo que a maioria desses jovens tenha o privilégio de concluir pelo menos o Ensino Médio sem a necessidade de trabalho. No entanto, as aprendizagens escolares continuam a aparecer como um aspecto de grande importância na vida dos jovens, pois acreditam que é por meio deles que conquistarão seu futuro profissional e terão melhor compreensão da realidade. Contudo, muitas dessas aprendizagens revelam-se como não aplicáveis ao trabalho, são movimentos contraditórios existentes na relação entre educação e trabalho. Por um lado, a educação profissional e orientação vocacional apresentam-se como procuras urgentes na vida desses jovens que clamam por mais oportunidades na sua vida profissional. Por outro lado, as atitudes e sentimentos desencadeados pela experiência com o trabalho formal e informal desses jovens demonstram a heterogeneidade existente no mercado de trabalho, estes sentem-se fragilizados nas tentativas de inserção. As suas experiências demonstram atitudes e estados de impotência frente à conquista e permanência no trabalho formal.

        Em suma, o grupo concorda com Pais (2010) quando este defende que é muito heterogénea a realidade dos jovens portugueses. Mas há desafios e dilemas que lhes são comuns: nos domínios dos consumos, lazeres, sexualidade, educação, inserção profissional, participação social e política, direitos de cidadania e autonomia. Se me fosse pedido para destacar um destes domínios onde os jovens mais desafios e dilemas enfrentam apontaria a realidade do desemprego e do trabalho precário, sem dúvida uma das principais fontes de preocupação de muitos jovens portugueses. Ao longo do século passado (século XX) Portugal sempre foi um país com um desemprego de contenção: ou por causa da emigração, ou por causa de uma fixação forçada à terra, ou por causa da Guerra Colonial que ao mobilizar jovens para África os desmobilizava do mercado de trabalho, ou por causa da submersão de um número indeterminado de desempregados na chamada economia subterrânea. Mas em economias com um surto de desenvolvimento repentino - como foi o caso da economia portuguesa nas últimas décadas - o mercado de trabalho mostra crescentes dificuldades em absorver toda a força de trabalho disponível. Tudo isto porque os ganhos de produtividade e competitividade implicam mais um investimento tecnológico (em grande parte dos casos estrangeiro) do que a criação de oportunidades de emprego. Os modelos de inserção profissional não deixam de obedecer a tradições nacionais. Assim, podemos afirmar que o futuro não sorri a todos os jovens do mesmo modo. Todos têm um futuro mas o futuro de uns é mais risonho do que o de outros. Muitos jovens alimentam razoáveis ilusões em relação ao futuro. Outros, contudo, refugiam-se na ilusão como estratégia de fuga à realidade. No entanto, é necessário que os jovens possam ter uma participação efectiva na construção da cidadania e da democracia. Um modelo de cidadania participada é-nos dado por um jogo de computador que tem entusiasmado muitos jovens, ao verificarem que detêm o poder de participar na criação da sua cidade. Refiro-me ao SimCity. O SimCity foi um dos primeiros jogos a explorar os fascinantes poderes da emergência bottom up. Os sistemas bottom up contrapõem-se aos modelos deterministas top down que são característicos dos enquadramentos impositivos. Tanto a aprendizagem quanto o actuar bottom up dão-se no mundo da vida quotidiana – usando “informação local” que pode levar a um “saber global”. Nesse jogo, o mundo bottom up está presente pelas possibilidades de auto-organização de comportamento emergente. Ao contrário das cidades planeadas de modo top down, a vitalidade das cidades vem dos que informalmente circulam no espaço público da cidade: a rua. A verdadeira magia da cidade vem de baixo e não dos arranha-céus onde a vida social parece estar enjaulada. Os jovens tomam a rua como palco de muitas das suas manifestações culturais, como o skater, o grafitti, o street basket, etc, tudo isto porque esta é reivindicada pelos jovens como um palco de cultura participativa.

 



Referência Bibliográfica:

AAVV (2006) Os Jovens e o Mercado de Trabalho. Caracterização, estrangulamentos à integração efectiva na vida activa e a eficácia das políticas, Colecção Cogitum nº 18, DGEEP, Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social

 ALVES, Sandra Nunes (2007). Filhos da Madrugada: Percursos Adolescentes em Lares de Infância e Juventude. Lisboa: Instituto Superior de Ciências e Políticas.

PAIS, Machado (2000) Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda

SILVA, Sofia Marques da Silva (2010), De estudantes a Jovens in Abrantes (org.). Tendências e Controvérsias em Sociologia da Educação (81-102). Lisboa: Editora Mundos Sociais