Qualificações e Competências

Actividade 4 - Qualificações e Competências: A Formação na Transição para a Vida Adulta

 

    Num primeiro momento foi feita uma análise dos resultados dos trabalhos feitos pelos alunos (de duas turmas, a da manha – A, e a da tarde – B) relativamente à actividade 1: “As minhas vivências, a formação, o trabalho e a justiça social”.

            No que diz respeito à FORMAÇÃO, a nossa turma (A) associou esta a uma fonte de experiências/aprendizagens/partilha, e considerou que a formação gerava desenvolvimento (perspectiva holística) e era uma forma de realização (pessoal/profissional). Ninguém deu relevância às dimensões da formação como flexibilidade e adaptação à mudança e à formação como criação de oportunidades. Já na turma B, a relevância dada às dimensões foi diferente, talvez por esta ser maioritariamente constituída por trabalhadores-estudantes que têm outra visão do mundo do trabalho. No geral, ambas as turmas deram maior protagonismo à formação como fonte de experiências/aprendizagens/partilha, à formação para o desenvolvimento e à formação como uma realização (pessoal/profissional). O grupo concorda com este ponto de visto, uma vez que consideramos a formação como uma fonte de experiências e aprendizagens, que de certo modo leva à realização pessoal e profissional.

            Relativamente ao campo do TRABALHO, a turma A considerou o trabalho como fonte de rendimento, como uma condição à vida em sociedade e como direito vs. responsabilidade social, bem como, partilha de experiências e fonte de saberes e como gerador de oportunidades. A turma B focou percepciona o trabalho como algo emancipatório/ e que dá autonomia bem como estatuto social. De referir, que esta última dimensão não foi mencionada pela turma A.

            Num segundo momento foi-nos proposto analisar o texto «Factores de bloqueio à entrada dos jovens no mercado de trabalho» e escolher os três factores que o grupo entendesse como mais relevantes, na actualidade, para o processo de inserção dos/as jovens no mercado de trabalho.

 Iremos, agora, abordar dois conceitos distintos e que são confundidos na maioria das vezes, qualificação e competências, associando-os ao conceito mais amplo, inserção socioprofissional. Importa clarificar primeiro o que está inerente a cada um dos conceitos. A inserção é, segundo Henrique Vaz, «um processo socio-profissional, que representa, para o indivíduo, não só um processo em que este desenvolve uma identidade profissional, mas também um período de transformação pessoal de mutação da sua própria identidade.» Assim, podemos falar de uma inserção social que tem como factores a necessidade de existência de habitação, de tempo livre, de assistência à saúde, de acesso à justiça e à prevenção da delinquência; e de uma inserção profissional, que não se circunscreve à simples relação entre formação e emprego, pressupondo que haja um projecto pessoal e um projecto profissional. Para se falar em competência, há a necessidade de definir qualificação. O termo competência aparece como um sinónimo do mundo de trabalho.

Qualificação define-se pelo saber e pelo saber-fazer adquiridos no trabalho e na aprendizagem sistemática. Esta encontra-se no trabalhador e constrói-se a partir do posto de trabalho. Melhor, o tipo de intervenção definido pelo posto de trabalho definirá a qualificação. Naville (1995) refere-se à qualificação como resultado de um processo de formação autónomo, independente da formação espontânea no trabalho. Esta constrói-se muito mais nos critérios sociais, onde as relações de força e os conflitos têm um papel importante, do que individuais. Ela não se reduz às qualidades intrínsecas do indivíduo, são construídos socialmente. A duração da aprendizagem aparece como um dos elementos essenciais da qualificação. Esta representa uma figura do ofício mas, ao ser regulada pelo Estado (e não por corporações), a qualificação faz o trabalhador entrar na Ordem da Cidadania. A qualificação «pode ser influenciada por aspectos sociais, culturais, políticos e económicos (sistema de formação e de valores, mercado de trabalho) que variam no tempo e no espaço» (Costa. 2007:139). Assim, podemos perceber como este conceito encontra correspondência na inserção socioprofissional, da mesma forma que a inserção não abrange apenas aspectos profissionais mas também sociais, o conceito de qualificação também abrange aspectos sociais e culturais e não, apenas, individuais.

Por fim, a competência tem a sua origem nos meios jurídicos e inicialmente estava restrito a estes, alargando o seu campo de acções posteriormente (Isambert-Jamati, Vivianne, 1994). As competências são únicas e pertencem a uma categoria formalizada, estas não podem ser encontradas em todos os indivíduos da mesma forma. Estas dizem respeito ao uso de técnicas definidas que, embora não tenham sido criadas pelo indivíduo, são usadas e readaptadas por ele. Esta surge como algo que o indivíduo possui e uma construção social. Segundo Costa é um «conceito ainda em construção» (2007:138). Trata-se de «uma palavra do senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar alguma coisa», onde está relacionada com um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que a pessoa tem e que justificam o seu bom desempenho. A competência está relacionada com o desempenho de uma pessoa na realização de uma tarefa. “As competências são relativas, porque dependem da maneira como são vistas e reconhecidas socialmente, mas também são reais, pois podem ser caracterizadas por um tipo de saber” (Stroobants, 1994 cit. in Costa, 2007:133). Mais uma vez, vemos a componente social associada a um conceito e podemos observar a ligação com o conceito de inserção socioprofissional.

 Assim, quanto ao balanço do debate entre os diversos grupos, surgiram várias ideias a reter acerca dos dois conceitos.

    

Competência

  • Conhecimentos, é o saber fazer;
  • Conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que estão intimamente ligados ao trabalho, sendo por isso constantemente ligados à função desempenhada pelo trabalhador, sendo por isso uma componente mais prática;
  • Versatilidade e competência dos trabalhadores. A sociedade e o mercado de trabalho exigem cada vez mais trabalhadores versáteis e flexíveis;
  • A competência desenvolve-se ao longo do tempo;
  • Para se ser competente não é necessário ter uma qualificação, mas para se ter qualificação tem de se ter competência;
  • A qualificação e a competência não se podem separar. A qualificação é concretizada através da competência, esta surge da competência que as pessoas têm para mobilizar os saberes. Podemos desenvolver um trabalho através da competência, mesmo sem possuirmos qualificações para tal;

   

 Qualificação:

  •  A competência surge como forma de afirmação, para conseguir melhores condições de trabalho e melhores remunerações;
  • Está associada a um trabalho intelectual;
  • A qualificação confere valor às competências, é através desse atestado que se prova a alguém as capacidades que se tem para um determinado trabalho;
  • A qualificação por si só serve de impulsionador no mercado de trabalho;
  • A necessidade de atribuição de qualificações, justifica-se através das novas oportunidades. Se não fosse necessário que as competências das pessoas fossem traduzidas numa qualificação, não existiriam iniciativas deste género;
  • Os trabalhos com mais valor social exigem uma qualificação. 

    

Em suma, o conceito de competência está relacionado com o desempenho de uma pessoa na realização de uma tarefa, tendo por base um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que provam que a pessoa é capaz de realizar eficazmente o seu trabalho. Esta trata das exigências de cada posto, é independente das especificidades de cada um e diz respeito às capacidades profissionais, à sua formação sistemática e socialmente controlada. A qualificação consiste na preparação do indivíduo para um futuro profissional, sendo que este aposta num percurso académico que espera que lhe garanta um emprego melhor. É a especialização numa determinada área, aliando a teoria com a experiência prática. Assim, esta é uma noção em aberto, em evolução permanente, porque está associada ao trabalho, isto é, não se limita ao saber e ao saber-fazer, trata, também, a especificidade do indivíduo, a sua originalidade da sua trajectória profissional, a sua experiencia, as suas capacidades e potencialidades.

Face às ideias apresentadas anteriormente, será que podemos afirmar que mais competência é sinónimo da entrada no mercado de trabalho? Ou será a qualificação o conceito mais importante no mundo do trabalho?

No mundo actual e globalizado que vivemos, o mercado de trabalho mostra-se cada vez mais exigente, e a busca por uma colocação profissional não é mais uma questão de empenho ou de sorte, e sim de qualificação. A qualificação profissional deve ser vista como factor determinante para o futuro daqueles que estão à procura de uma colocação no mercado de trabalho, sendo ainda importante para os que procuram manter a posição ocupada, alimentando hipóteses reais de crescimento nas corporações, o que nos leva a acreditar que à medida que o tempo passa e o mundo evolui, muito além da experiência, adquirir e renovar conhecimento torna-se inevitável.

 

Referência Bibliográfica:

    COSTA, Luciano (2007) «A crise do fordismo e o embate entre qualificação e competência: conceitos que se excluem ou que se complementam?», in Revista de Ciências Sociais, nº 26, pp. 127-142.