Juventude

Actividade 2- Juventude: Uma Década

 

      Esta actividade consistiu numa recolha de informações por parte dos vários grupos constituintes da turma, sobre as características do conceito de Juventude em décadas diferentes, especificamente desde a década de 50 até à actualidade. A década escolhida pelo nosso grupo foi a década de 90, no entanto, vamos fazer uma pequena sinopse de cada uma, apresentando os aspectos mais relevantes de cada, tentando ir buscar contributos teóricos e elementos das apresentações dos nossos colegas. Desta forma o grupo concorda com Machado Pais quando este encara a Juventude à luz de uma oscilação entre duas tendências, a geracional e a classicista. Na primeira, a juventude é encarada enquanto conjunto social cujo principal atributo é o de ser constituído por indivíduos que pertencem à mesma fase de vida, predominando a procura por aspectos mais uniformes e homogéneos que caracterizariam esta fase da vida, ou seja, referente à cultura juvenil específica de cada geração, em termos etários. Já na segunda tendência, a juventude é tomada como um conjunto social diversificado, perfilando-se diferentes culturas juvenis em função de diferentes pertenças de classe, situação económica, parcelas de poder, interesses ou oportunidades ocupacionais. Nesta tendência, a juventude é vista como um conjunto social cujo principal atributo é o de ser constituído por jovens em diferentes situações sociais. Se as culturas juvenis aparecem geralmente ligadas a conjuntos de crenças, valores, símbolos, normas e práticas que determinados jovens partilham, é certo que esses elementos tanto podem ser próprios ou inerentes à fase de vida a que se associa a noção de juventude. O envolvimento dos jovens em grupos de amigos e os comportamentos que começam a ser identificados como fazendo parte de uma cultura adolescente, foram fonte de preocupações tanto de educadores como de reformistas em meados do século passado. Assim, a noção de juventude só adquiriu uma certa consciência social a partir do momento em que, entre a infância e a idade adulta, se começou a verificar um prolongamento, com os devidos problemas sociais derivados, dos tempos de passagem que hoje em dia continuam a caracterizar a juventude, quando referida a uma fase da vida.

 

     Segundo Bordieu, “ a juventude é apenas uma palavra”, ou seja, na realidade existem pelo menos duas juventudes, uma burguesa e uma das classes populares, que têm entre si diferenças cruciais em todos os domínios da existência. A crítica feita pelo o autor enfatiza o facto de que conceber o termo juventude "para falar dos jovens como se fossem uma unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar esses interesses a uma idade definida biologicamente já constitui manipulação evidente." Nessa perspectiva, a restrição do movimento de juventude para uma condição, uma preparação ao mundo do trabalho, significa então, reproduzir hierarquias em que "cada um se deve manter no seu lugar". Então, Bourdieu afirma que essa caracterização dá à juventude a condição de ser apenas uma palavra pois é uma categoria que tende a ser percebida e definida biologicamente, ignorando-se que "as divisões entre idades são arbitrárias e "objecto de disputa em todas as sociedades"", ou seja, vão muito além do cariz biológico, a juventude e os seus atributos seriam uma categoria socialmente construída e dependente de condição de classe. Na discussão sobre o conflito entre gerações, Bourdieu ressalta que a classificação da juventude por idade é limitadora, produzindo uma noção de ordem ou de relação social estruturada com base em lugares predeterminados às pessoas. Em jeito de conclusão, citamos Pais (2008 ) pois este defende que há uma explosão de novos conceitos, e os jovens se deparam com grandes impasses quando procuram o seu direito de trabalhar, de estudar, de realizar seus sonhos e projectos de vida. Como acrescenta Von Döllinger (1997 in Pais, 2008), "Cunham-se expressões novas e ao mesmo tempo resgatam-se ideias antigas: o fim da história, o desencantamento, a pós-modernidade, o pós-industrialismo e a terceira revolução industrial" são termos que deixam de estar restritos ao meio académico e entram no dia a dia das pessoas. Face a estas transformações, os jovens sentem-se inseguros e despreparados para participarem activamente na sociedade em que vivem. Esta autora considera a juventude como um problema social, uma fase difícil e perturbadora da vida, em função dos sentimentos que desencadeia nos jovens, como transgressão e rebeldia, e, portanto, necessita do amparo dos adultos. Na década de 50 e início da de 60 do século XX, caracteriza-se, nos países mais avançados economicamente, a separação entre jovens e família, enfatizando a busca daqueles por autonomia e mais liberdade. Dessa forma, as décadas de 60 e 70 foram assinaladas pelos movimentos estudantis juvenis, pelo consumo intenso da música, ocasionando um rompimento com as regras estabelecidas. Já as décadas de 80 e 90 marcam o resgate de valores à sombra da homogeneidade da cultura adulta. Por conseguinte, a juventude presente nessa fase histórica se configura como uma categoria social, formada por símbolos contemporâneos e marcada pelo resgate de valores à sombra dos valores adultos. Percebe-se, nessa breve trajectória histórica, que o conceito de juventude não possui uma definição única, nem estática, pois em cada período, em cada momento histórico, cada geração traz marcas próprias dentro do contexto social, portanto os sujeitos são influenciados pela sociedade em que vivem e, por isso, comportam-se, pensam e agem de maneira diferenciada. É dessa forma que se pode observar como os conceitos de "adolescência e juventude" vêm se transformando ao longo do processo de constituição de nossa civilização. Para Carrano (2000 in Pais, 2008), a juventude deve ser compreendida como uma complexidade variável: os jovens são diferentes porque diferentes são seus modos de viver, diferentes são seus espaços e tempos sociais, diferentes são suas identidades.

    Assim, achamos interessante termos feito este retrocesso nas décadas, para percebermos melhor quais as mudanças que foram ocorrendo ao longo de tempo ao nível da juventude e de que modo estas aconteceram, bem como o que trouxeram de novo.

 

   

Referências Bibliográficas:

https://pplware.sapo.pt/pessoal/curiosidades/se-cresceste-nos-anos-90/

· https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1990

· https://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/html/portugal_historia_pt.htm

·https://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_do_Trabalho_e_da_Solidariedade_Social

PAIS, Machado (2000) Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda

NETO, Paulo (2009), A juventude como sujeito social: elementos para uma problematização; Revista Pesquisa em Foco: Educação e Filosofia, Volume 2, número 2 in https://www.educacaoefilosofia.uema.br/v2/1.pdf